Prezado desconhecido,
Prezado? Essa palavra não cairia bem para te cumprimentar nesta carta. Seria um desleal lembrar escrevendo para você depois de ter passado.
Numa noite chuvosa e gelada, eu estava prestes a sair da balada. De repente, você apareceu do nada sorrindo para mim e começou a falar no meu ouvido. Tentei te avisar que sou surdo e percebi que você está bêbado. Me convidou para ir na tua casa, me fez pensar horrores. Mas decidi te levar para minha casa.
Eu não devia ter feito, porque eu estava carente. Me fodi na hora errada...
Um desconhecido sem nome nem idade na cama.
Hálito de álcool nas minhas costas
Dor intensa na parte de baixo
Tentativa fracassada
Nenhum carinho
Nem despedida no final.
Você me fez tomar um porre misturado de rivotril.
Você me fez apagar.
Você me fez magoar.
Tarde demais.
Eu me arrependi.
Pior é que ainda lembro daquela noite.
Vim para dizer umas coisas que você não vale pena e que mereça um lugar de algum inferno dos infernos insuportáveis.
Do que adianta praguejar tudo isso? Não sei teu nome nem idade e não me faço ideia de onde você é! Porque não entendia nada do que você falou para mim assim bêbado.
Enfim, espero que você esteja morto ou sofrendo em algum lugar insuportável...
Adeus.
G.