terça-feira, 4 de novembro de 2008

Começo, aqui, a história mais interessante já contada sobre alguém. Essa é a história de um menino que nunca quis mudar o mundo. Nunca quis ser mais alto. Nunca quis ser mais baixo. Nunca quis ser mais inteligente. Nem mais gordo, nem mais magro, nem melhor nos esportes. Nunca quis ter o cabelo loiro, nem o olho claro. Nunca invejou ninguém. Nunca roubou bala da padaria. Nunca pensou em explodir algum prédio. Nunca tentou ver sua vizinha pela janela. Nunca gostou de ler gibis. Nunca fez questão de ser campeão do campeonato de botão. Nunca pensou em ficar rico, nem famoso.

Um dia ele morreu. Quatro pessoas choraram.

No enterro, duas pessoas se conheceram. Casaram, tiveram filhos e se separaram. Ela ficou com o carro. Ele ficou com as dores. Ela ficou feliz. Ele triste. Ela se jogou do prédio. Ele ficou calado.

Três pessoas choraram.

No enterro, duas pessoas se conheceram. Ele nunca gostou dela. Ela nunca pensou em falar com ele. Ele ficou rico. Ela se apaixonou. Ele deu três tiros nela. Ela morreu. Ele tirou foto pros jornais. Ela também.

Duas pessoas choraram.

No enterro, duas pessoas se conheceram. Ele nunca ligou pra ela. Ela nunca ligou pra ele. Ela dirigia rápido. Ele gostava de festa. Ela não bebia. Ele não bebia. Ela passava batom. Ele deixou o chão vermelho. Ela nem sabia o nome dele. Ele morreu.

Uma pessoa chorou.

No enterro, ninguém se conheceu. O tempo continuou a morrer.

Ninguém chorou.

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