Acordei mal-humorado na manhã gelada do dia vinte e um de setembro, não tinha nenhum interesse em continuar vivendo, ou seja, vegetando. Depois de desjejum, comprei um maço no caminho para parada, acendi um cigarro e sugei partículas de nicotina, dióxido de carbono e mentol. Me senti uma tontura danada, enquanto soltando baforadas de nicotina.
No meio do curso, a professora anunciou:
- Hoje é um dia muito especial para Léo! Vamos parabenizar para ele que hoje é aniversário dele.
Os colegas ficaram em pé, aplaudindo e cantando assim...
Parabéns para você!
Você ganhou mais um ano de vida!
Que seja feliz para sempre...
Eu estava nervoso querendo sair da sala no meio de coro chato, mas fiquei na sala recebendo abraços.
Os vinte e um anos são um chatice da vida, é que penso assim.
Não vai ter bolo? - pergunta uma colega.
Bolo? Não quero saber - respondi mal-humorado.
***
Algum dia chuvosa, vi um papelzinho contendo nome e endereço da psicanalista na escrivaninha. As tias marcaram para mim consultar.
Eu não pedi nenhuma ajuda, mas sei que tenho problemas, enfim...
***
Entrei na sala de espera da psicanalista acompanhado da tia. Vi umas revistas de moda. Fiquei vendo umas imagens das mulheres tão magrinhas até ser chamado da psicanalista para entrar na sala dela.
Notei três quadros mostrando cenas de paraíso, céu e inferno. Abaixo dos quadros, uma divã. Aos lados, várias fotografias de Freud.
A psicanalista mostrou uma poltrona para mim sentar.
Começou com uma pergunta:
- Recebi uma ligação das tuas tias pedindo consulta, então o que você veio para aqui me consultar?
Pois é, respondi, vim por causa de depressão, fobias e... e... e...
E? - perguntou a psicanalista
E transtorno alimentar - finalizei com sorriso amarelo.
Ela ficou surpresa e disse que estou magro demais.
A consulta saiu bem tranquila, não sei se vai me ajudar bastante para sair do transtorno alimentar.
***
Confidenciei com a minha colega do surdo sobre transtorno alimentar. Ela compreendeu agora e contou-me que já ficou uma semana sem comer, apenas tomando apenas café por causa de depressão severa. Agora está em tratamento.
Ela avisou quando saímos de ônibus que eu posso desabafar qualquer coisa com ela. E torce que eu posso sair do inferno.
Devorei dois pratos no restaurante vegetariano, estava nervoso até mãos tremendo. Pensei:
- Ah! Quero estar feliz comendo bem.