terça-feira, 25 de agosto de 2009

Partida bizarra

Estava preparando umas malas para a partida, senti um vento vindo da janela do meu quarto. Era gelado, mas gostoso. Estava chovendo forte no dia dezoito.
Achei engraçado o dia da partida ficaria assim, embora que gosto de dias nebulosas, chuvosas e geladas.
Lembrei da reunião da escola para discutir sobre a inclusão nas salas de aulas, fui lá debaixo da chuva. Durante a reunião, o celular vibrou. Era a mensagem da minha amiga dizendo que a mãe tá precisando comigo urgente. Alguns minutos depois, me apressei até a casa. A mãe estava uma fera, mas não importei dela. Que se foda uma vaca obesa e teimosa!
Ônibus para Porto Alegre chegou, a mãe despediu e disse que eu volte nos finais de semanas para passar. Eu fiz deboche assim: Não vou voltar para visitar você e pai, mas só animais de estimação. Então, adeus!
A mãe não gostou pelo o que disse.
Entrei no ônibus, vi um homem no banco último, eu sentei atrás do banheiro. Porque é lugar meio vazio, admito que gosto assim mesmo.
Quase duas horas depois, deu uma sensação danada de fome. Vi uma sacola contendo salgadinhos e chocolates que a mãe comprou para mim.
Devorei imediatamente que nem um mendigo. Senti uma dor intensa do estômago e uma grande culpa, tentei ignorar esses sentimentos, mas não deu a bola.
Então fui no banheiro de ônibus, coloquei dois dedos na minha garganta e pressionei bem forte. Saiu os restos alimentares.
Miei no banheiro de ônibus andando para capital. A bulimia voltou...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Perdido no mundo irreal

"Comece pelo começo, siga até chegar ao fim e então, pare" - Lewis Carrol em Alice no País das Maravilhas.

***

Vesti uma calça 36 bem folgadinho no banheiro depois de tomar um banho, passei mão no espelho pra tirar umidade e mostrou uma imagem.

Não é sou eu. É tão diferente de mim.

Enquanto isso, lembrei das velhas fotografias e momentos do passado remoto. Chorei lembrando que comia sem culpa, tinha um corpo saudável e era feliz.

Por que? Porque eu não me vejo como magro, sim como um gordo. Resposta crua e irreal.

Você está magro demais até parece um aidético, disse um conhecido. Dei um gesto obsceno pra ele, dizendo que não se meta na minha vida.

Meus amigos de infância estavam conversando sobre academia e emagrecimento. Mostrando umas "barrigas de cerveja", então mostrei minha barriga. Eles falaram que a minha barriga é lisa pra caramba. Eu não acreditei pelo o que elas acabaram de falar.

***

Nas meia-noites, eu tento dormir, mas só fico acordado de olhos molhados pensando o que será de amanhã. O demônio voltou com aplauso silencioso. Falta um pouco para chegar e depois morra!

Estou ficando neurótico...

Que bela sopa, tão rica e verde,
Esperando no caldeirão a ferver!
Quem consegue parar de comer?
Sopa do jantar, bela sopa!
Sopa do jantar, bela sopa!
Que be....la so....pa!
Que be....la so....pa!
Soooo...pa do jantar!
Bela, bela sopa!
Que bela sopa, quem liga para um peixe,
Carne ou outro prato?
Quem não daria tudo o que tivesse por essa bela sopa?
Sopa do jantar, bela sopa!
Sopa do jantar, bela sopa!
Que be....la so....pa!
Que be....la so....pa!
Soooo...pa do jantar!
Bela, bela sopa!


Uma noite qualquer, meus pais me chamaram para jantar. Falei que não sinto fome nenhum, mas eles não importam e me levaram para cozinha. Eu vi um prato cheio de comida.
Eu: Não vou comer tudo isso! - mexendo comida
Mãe: Se não comer, vai ver.
Eu: Então, mostra - continuando a mexer comida
Pai: Coma! - Batendo forte na mesa.

Fiquei assustado, comi um pouco, de olhos molhados. Outros parentes estavam lá observando tudo.
A metade do prato se foi e saí direto para quarto. Tentando abafar o choro com travesseiro, deitado na cama.

Não chora! - sinaliza demônio - É tudo que você tem que viver.
Mandei que ele saia do quarto, jogando travesseiro.

***

Recebi uma notícia boa caiu do céu: vou morar em capital esta semana. Então, vou partir hoje à noite mesmo.
Preciso ficar longe do pais, mas vou ter que enfrentar com a tia chata e as consultas semanais no hospital de capital.

Você deve, querendo ou não querendo, sair do inferno.

A luz do fim está chegando...

Soooo...pa do jantar!
Bela, bela sopa!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Are you happy with that?

Eu preciso morrer, mover, mudar
parar de enxergar para ver,
Sorrir sem palavras, sem me preocupar
Porque as vezes você precisa escolher
Entre perder e esquecer sem jamais lutar!
Não sei quanto tempo passou
Desde que esqueci de passar
Tão perto de um lugar qualquer...
Eu queria me fechar, mudar e voltar a ser tão normal
E não ser
o que eu penso ser... o que eu acho
que sou
Meus pensamentos,
os julgamentos que eu finjo não notar
o que é mais certo?
O silêncio pode mostrar que eu me importo
Fugir pode me calar...
...
Talvez eu deva viajar, mudar o rumo...
talvez não ter onde ficar,
talvez no escuro...
Talvez não encontrar
um outro rumo...
Talvez a estrada não tenha fim,
talvez o fim seja viajar
em outras águas que ninguém navegou
e talvez nunca chegar
em lugar nenhum
ou em qualquer lugar...
salvar-me...

***

Estava num lugar bem movimentado e alegre, esperando um ônibus chegar na parada. Um táxi parou no meu lado, a porta abriu e era a tia. Chamou-me para entrar. Então entrei.
Por bom tempo, reconheci uma avenida, comecei a desesperar.
Era o endereço do hospital onde tem ala para transtornos alimentares.
Quase causei o acidente tentando fazer táxi parar, mas paramos na frente de emergência do hospital.
Comecei a ficar nervoso demais.
A tia saiu, pedindo que eu saia do táxi. Eu recusei inúmeras vezes, tentando segurar o banco. Mas ela chamou enfermeiros. Um bando dos enfermeiros!
Os enfermeiros me carregaram. Me debatei para sair dos braços, mas sem sucesso. Entramos nos corredores do hospital.
Podia ver os rostos das pessoas, que estão esperando no corredor da visita, assustados nos observado.

Acordei, percebi que era um pesadelo e fiquei tranquilo.

Mas...

Dois dias depois, a tia visitou de surpresa.

***

Depois de uma semana com a tia na minha casa. O que ganhei? Inúmeras perguntas feitas pela minha tia sobre alimentação e tais, que resultou umas belas discussões nos almoços e jantares.

Algum dia a mãe perguntou-me se tenho papel de encaminhamento. Eu respondi que não é pra sua conta. Ela me pressionou, então dei pra ela. Depois de ela ler, ficou feliz e tentou me abraçar. Eu falei que não quero saber de abraços. Um garoto indelicado, claro.

***

Os pensamentos anoréxicos me consomem para caramba e muita comida hipercalórica! Resolvi vencer o medo temporário da balança, depois de umas "décadas" sem pesar.

Pesei, vi no visor e não acreditei.

50,2kg! Perdi 3 quilos comendo.

***

Uma garota com transtorno alimentar em que converso no msn fez-me refletir com uma frase que ela sempre fala:
- Quando como, sinto culpa e quando não como, também sinto culpa.

Afinal: todo anoréxico e bulímico é feliz?

sábado, 1 de agosto de 2009

Unexpected moments

Eu estava no campo verde. De repente, apareceu um vulto aproximando. Me surpreendi vendo um rapaz que era eu, de aparência bem esquelética. Ele falou que podemos sentar para conversar. Falei pra ele que está bonito de ossos. Ele agradeceu, porém, de cara bem estranha. Ele falou que estou ótimo com 53 quilos. Perguntei pelo peso seu. Ele respondeu 40 quilos. Fiquei surpreso. Ele adverteu que devo pensar bem antes de chegar em meta final. Eu ia falar umas coisas, mas senti alguém me cutucando. O "eu" deu tchau, de olhos molhados. E acordei.

O passarinho verde apareceu no muro da casa, fraco.

Recebi uma mensagem da amiga da minha tia dizendo que fui aceito para fazer curso/estágio em FIERGS. No momento, eu estava na tabacaria do shopping. Me deu uma vontade, passei na sorvetearia e pedi um milk-shake de chocolate. Tomei todinho em poucos minutos. Meu estômago doeu demais. Dei uma passada na biblioteca municipal. Quando eu estava lendo o jornal, comecei a sentir taquicardia, ondas de calor e tremendo demais. Ataque de pânico por causa de milk-shake. Apressi caminhando para o banheiro. Miei. A dor de cabeça começou. O NF durou só 14 horas.

O passarinho verde cantarolando feliz depois de ser adotado por uma família.

No meio da noite gelada, voltei da reunião de associação. Notei o ambiente estranho na minha casa, vendo a mãe telefonando de jeito diferente. E entrei na cozinha, avistei duas agendas minhas na mesa de cozinha. O pai, sentado ao lado de fogão à lenha, me chamou. Meus pais re-descobriram do meu transtorno alimentar.

O passarinho verde começou a debater agressivamente.

Meus pais me levaram para restaurante e eu discordiando de cara furiosa. Coloquei pequenas porções no prato em fila de buffet. Quando ia colocar prato na balança. Meus pais viram meu prato assim e me forçaram que eu coloca mais. Eu dei palavredos. O atendente me observou sem jeito.

O passarinho verde ficou iludidado.

Fui consultar com a minha psicólogica, contando o que aconteceu na casa. Até falei que estou tendo compulsões. Ela perguntou-me que forço a vomitar, respondi de vez em quando. Disse que meu transtorno alimentar é bem complexo. Rindo mentalmente. Ela disse que vai chamar psiquiatra e nutricionista para continuar o tratamento. Psiquiatra?! É que preciso muito dele! Mas, lembrei do curso/estágio em capital. Avisei-la que não vai dar, ela perguntou pelo porquê. Expliquei que fui aceito pra fazer lá. Ela ficou feliz, dizendo que é bom pra mim. Escreveu um encaminhamento para que eu possa continuar tratamento em capital.

Almoços briguentos. Sem controle sobre as compulsões. Crises depressivas tempo todo. Pensando em emagrecer sem parar. O que mais me surpreende é que havia perdido 2 quilos.

O passarinho verde morreu.

O FIERGS ligou dizendo que meu curso/estágio foi adiado para mais tarde por causa de Gripe A. Eu estava prestes a me mudar hoje. ODEIO TUDO ISSO!