sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Espelho foucaultiano

No meios dos preparativos no processo de seleção para doutorado, ao abrir o livro do Foucault intitulado de "O corpo utópico, as heterotopias", o pesquisador que tornou um suporte-base essencial para seus trabalhos acadêmicos e recente mestrado em Estudos da Tradução em outro estado depois de graduar Jornalismo. E inclusive tornou um verdadeiro suporte caótico em oferecer umas verdadeiras tapas de realidade diante da verdade "modificada".

É como cair um ficha em formato do meteorito em direção ao Terra no estilo da Laerte.

Por que a menção do Foucault neste blog? Ou impressão de que a postagem está sendo mais acadêmica? Pois bem, sendo uma pessoa surda com depressão (que deve ser diagnosticada de forma equivocada ou por conta de falha de comunicação?) e logo recebo umas suspeitas de ter características de Altas Habilidades/Superdotação - uma famosa sigla AH/SD após dialogar com as certas pessoas surdas diagnosticadas de forma tardia que surpreenderam as expectativas de forma inimaginável sobre minha pessoa.

Comecei a me questionar. Pode parecer que é óbvio, mas o processo tornou a ser mais doloroso do que se imagina. É como se olhar ao espelho que começa a quebrar aos poucos. Parece que não se reconhece mais depois das violências impostas sobre meu corpo utópico apesar de ser tão diferente com outras pessoas surdas da mesma idade naquela época, ou seja, entre pré-adolescência e pré-adulto, que vieram os questionamentos que me deixaram intrigado de certa forma. E me adoecem de certo sentido numas formas mais violentas que já ocorreu na situação de bullying. Dessa vez eu não hesitaria em perdoar para certas pessoas que fazem parte da comunidade surda que é minoritária, o jeito que era me sumir da vidas deles. Por isso fiz ações absurdas que não demandam a reflexão necessária apesar da situação complicada de ter convivido na casa dos pais durante a vida escolar, e pude encarar de dupla violência: não ter aceitação tampouco aprovação depois de ser aprovado no processo vestibular do federal após saberem qual curso selecionado. Que era totalmente diferente do pensamento deles, que queriam que eu fosse profissionalizar em ciências do campo. Mesmo assim, mudei para que eles possam esquecer aos poucos da minha existência.

Como eu havia concluído o curso de Jornalismo apesar dos desafios e violências capacitistas que enfrentei durante quatros anos, tive que mostrar a realidade diante à pessoa que me geriu durante a defesa do trabalho de conclusão. Depois daquela defesa conturbada, eu tinha convidado a minha mãe para almoçar com meus amigos e intérpretes, porém ela simplesmente ofereceu dinheiro e me despediu. 

Sinceramente, isso me atingiu. Por que ela fez isso? Ela não se sente orgulho de que seu único filho que é um mero surdo que concluiu Jornalismo? Deve ser um dos vários motivos de que me motivaram a se mudar para outro lugar de forma inesperada? De forma inesperada pode ser dolorida, mas tornou necessária mesmo.

Me evolui, ou seja, cresci muito vivendo no estado vizinho, especialmente na região litorânea. Como eu não tinha apreço sobre praias e demorei a reconhecer que a praia tornou um ritual para reflexões solitárias e carregadas de álcool, claro. (Após anos de conviver vivendo com a mãe dizendo que bebo muito, não é que ela previu muito apesar do óbvio diante da situação conturbada?)

Após a conclusão do mestrado em Estudos da Tradução, que era uma área inesperada que me instigou inteiramente (ou era mera característica de ser curioso para caralho?), pois bem, e tive que retornar para pampas depois de ter sido demitido numa área empresarial por dois anos (imagina lidar o combo de saúde mental entre trabalho e mestrado com bolsa). O melhor das todas é que não ter retornado na cidade natal, fui acolhido na cidade onde cursei na época da graduação (valorizem amizades inesperadas, por favor!).

Entonces, retornando diante dos apetrechos foucaltianos, logo esbarro com um trecho que faria sentido danado com flashbacks:

Meu corpo, topia implacável. E se, por sorte, eu vivesse com ele em uma espécie de familiaridade gasta, como se com uma sombra, ou com as coisas de todos os dias que no fim das contas não enxergo mais e que a vida embaçou; como as chaminés, os tetos que, todas as tardes, se ondulam diante de minha janela? No entanto, todas as manhas, a mesma presença, a mesma ferida; desenha-se aos meus olhos a inevitável imagem imposta pelo espelho: rosto magro, ombros arcados, olhar míope, sem cabelos, realmente nada belo. E e nesta desprezível concha da minha cabeça, nesta gaiola de que não gosto, que sera preciso mostrar-me e caminhar; e através desta grade que sera precisa falar, olhar, ser olhado; sob esta pele, deteriorar. Meu corpo é o lugar sem recurso ao qual estou condenado. Penso, afinal, que é contra ele e como que para apagá-lo que fizemos nascer todas as utopias. A que se deve o prestígio da utopia, a beleza, o deslumbramento da utopia? A utopia é um lugar fora de todos os lugares, mas um lugar onde eu teria um corpo sem corpo, um corpo que seria belo, límpido, transparente, luminoso, veloz, colossal na sua potência, infinito na sua duração, solto, invisível, protegido, sempre transfigurado; pode bem ser que a utopia primeira, a mais inextirpável no coração dos homens, consista precisamente na utopia de um corpo incorporal
(O corpo utópico, as heterotopias, de Foucault, 2013).

Logo o espelho se quebra, mesmo apesar dos sentimentos impostos sobre controle de nossos corpos e nossas emoções. Só que, durante a recente ocasião do casamento do amigo meu, o noivo percebe ao sentir volume do meu corpo elogiando após me abraçar, falei que engordei para a surpresa dele de que ter ultrapassado o peso dele. Logo me questionou se estou feliz por ter aumento do peso. Falei que posso estar feliz de qualquer jeito apesar de ter dado sorriso maroto.

Sei que tenho que me reconhecer quão necessário encarar apesar de tudo. E também tenho que conviver lutando em vez de cair diante das padrões impostas enquanto corpo utópico (vulgo perfeito). E é que demorei a perceber quão óbvio que tenho prazer nas pessoas gordas depois de assumir minha sexualidade (e convivi com as pessoas gordas que me proporcionaram prazer um tanto!), enquanto tenho de lidar sendo visto como twink para outros sem saberem que tenho histórico de transtorno alimentar. 

Sobre a situação de suspeita de AH/SD, não sei se vou responder disso logo por conta de situação financeira que me impediu a realizar exames concisas, que poderiam fazer uma grande diferença. Portanto, enfim... Não vou tolerar que meu espelho segue quebrado após anos e vou colar as peças quebradas. E darei orgulho para família de coração (amigos que conheci e que me acolheram durante anos acadêmicos apesar de tudo mesmo com a diferença absurda).
 
Desde que estou convivendo com monstros na mente para que eu possa seguir em frente apesar de tudo.



66 quilos, de 1,72cm.


sábado, 7 de maio de 2016

Quase três anos

A colação do grau estava passando no auditório lotado, onde as últimas palavras de juramento foram:

Jurem que exerçam a profissão com ética!

Assinatura tremida no papel, canudinho laranja na mão, sorriso nervoso e incertezas preenchendo na mente. Havia concluído o curso de Jornalismo.

- Vai voltar pra cá depois de graduar? - perguntou a mãe.
- Não, vou estar em algum lugar bem distante apenas.

Depois de um mês desse ato, foi aprontar as malas para se mudar para cidade litorânea, onde matriculou-se na federal para renovar novos ares.

*

Ficou um ano morando na casa do namorado, achando que ia melhorar longe de tudo o que lhe lembra. Mas não gerou bons resultados, mesmo que seja usando máscara para que seu namorado não percebesse quão sofrimento que o jovem está sofrendo. Assim gerou os resultados físicos: infecções no rosto e nos pés por ter engolindo sapos todo santo dia. 
Decidiu sair sem explicações e porquês após ter encontrado outro apartamento para ter próprio espaço bem sossegado.

*

Sentado na praia deserta no meio da noite, sentindo a brisa gelada no rosto. Lágrimas saindo dos teus olhos, soltou um longo suspiro enquanto fuma ao lado de fila de garrafas vazias.

Olhou para lua cheia e lembrou da citação de Nietzsche:

- É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela dançante.

Apagou cigarro, levou garrafas para lixeira, caminhou cambaleando até o próximo ponto e pegou o ônibus. A mistura das conversas e risadas dos passageiros deram um choque nas imaginações tortas do jovem bêbado que está com borboletas aplaudindo bravamente e abraçou tua mochila bem forte, pedindo que tudo ficasse em silêncio.


Um ano e meio morando na praia. E três anos sem fluoxetina e rivotril.


domingo, 16 de junho de 2013

Amarguras


A essência da felicidade é não ter medo.
Nietzsche

Depois de me mudar da cidade para estudar na faculdade e morar sozinho, os pensamentos martelam na minha cabeça, durante três anos, e gritando silenciosamente que devo voltar a pedir ajuda psiquiátrica. No começo fico ignorando apenas até receber uma notícia de cadeira reprovada depois de namoro complicado de três meses. No momento, estou no sétimo semestre (só falta apenas um semestre para formar) e tinha pago as mensalidades de formatura. Soube tardiamente através do colega que era possível reverter problema que é quebra de requisito, mas é tarde demais... A coordenadora do curso disse que não tenho outras opções para resolver isso, terei que continuar estudando mais um ano. Essa notícia que me deixou sem chão. Os planos de mestrado e futuro emprego entraram em blecaute e o pior é que o andamento do meu projeto de TCC, que estava indo bem, parou. Tenho faltado algumas aulas, nas reuniões de bolsa e nas reuniões da orientação de TCC (que resultou vários e-mails da minha orientadora sem responder nada).

Esse resultado inesperado que me deixou sem esperanças, mas fui consultar na unidade de saúde, depois de refletir, para pedir encaminhamento psiquiátrico. Não perdi esperança.

Papeladas de encaminhamento na mão. Agora é só falta marcar a consulta com psiquiatra para iniciar o tratamento depois de longo tempo e enfrentar a realidade para não iludir novamente nem perder os sonhos para continuar os estudos. E esforçar mais para não me entregar ao lado negro da força: a depressão.



terça-feira, 28 de maio de 2013

Day 7 — Your Ex-boyfriend/girlfriend/love/crush

Até parecia um verdadeiro e irônico conto de fadas assim receber uma cantada no lugar e tempo onde ninguém imagina assim como receber uma cantada safada, porém sincera no ônibus saindo do campus numa tarde agradável carregada de vento fresquinho vindo dos morros do norte.

Uma leve cutucada no meu antebraço rendeu uma conversa escrita por quinze páginas depois de uma tentativa fracassada de fazer uma leitura labial nos teus lábios tensos e cercados de barba que tornaram uma combinação nada convencional de riso ríspido e conversa acelerada. Número de celular anotado no meu moleskine reciclado, surrupiado e cheio de anotações de cores azul, preta, vermelha e verde ainda mais marcadas com cores vibrantes. Ônibus em movimento tornou o jeito da minha letra bela para horrorosa enquanto tua continua sendo bela e cuidadosa que me deixou boquiaberto.

Várias mensagens de celular contendo perguntas, respostas, gostos, curiosidades íntimas com um grande nível de safadeza me deixaram sem jeito durante três dias depois da cantada no ônibus. Até certo momento em que não esperava assim no meio dos sentimentos que voltaram a ficar tensos, no meio da madrugada chuvosa e gelada, quando recebi teu pedido do namoro enquanto estávamos deitados na cama. Fiz várias perguntas para certificar se você está agindo corretamente.

Repreendi-me depois de receber teu pedido de namoro, tive que aceitar por gosto da novidade, mesmo sabendo que ia dar um problema apesar de tuas implorações mimosas enquanto me abraça.

Foram os três meses carregados de tensões inconvenientes e desamores psicossociais.

Você é uma pessoa mais bizarra e cheia de surpresas para deixar alguém assustado com tuas histórias nada alegres sobre teu pai e relações familiares. Deu para notar que você precisa de alguém que te apoia, te ajuda, te cuida, te protege e te ama de forma crucial. Não sou ideal para você.

Nunca entendo nem vou entender tua mente confusa e dopada pela fluoxetina e antirretrovirais quando você perdeu a casa depois da confusão que teu pai causou e tive atender teu pedido de morar comigo por enquanto. Mas isso levou dois meses morando comigo que me fez pirar!

Não sei como você pode admitir que gostasse dos meus pais só porque conheceu por apenas 10 minutos! Insuficiente demais para entender minha aversão aos pais.

Por falar dos pais, conheci tua mãe, teu irmão gêmeo (PASMEM! Ele é mais diferente fisicamente e emocionalmente de você!) e tua família estranha. Sei que não tem nada a ver com a religião judaica que você tem orgulho de dizer que sabe falar e escrever hebraico e ídiche. (tirando esse orgulho idiota que você pediu que eu não mencionasse nada disso para minha família que possui tradições alemã. [quão panaca desesperado você é!]).

Apesar de sermos virginianos, percebo que nossas aptidões, nossas manias, nossos medos, nossas neuroses e afins não colaboraram a continuação do relacionamento conflituoso. Quer saber uma coisa? Não achei tua atitude correta quando você teve que trancar três cadeiras por justificar das tuas crises depressivas, déficit de atenção e HIV. Você está andando na beira de abismo às cegas, porra! E nunca MAIS VOU PERDOAR pelo o que você tinha dito algo contrário sobre meus amigos que me apoiam!

O tal de HIV que você revelou enquanto almoçávamos no RU. Essa cena foi totalmente bizarra e chocante demais pro meu gosto. Tentei te pressionar para saber como aconteceu e você contou noutro dia. Isso foi uma PURA BURRICE TUA! VÍTIMA DE ESTUPRO ASSIM MAIOR DA IDADE? COMO ASSIM? Tu topou o convite de ir na casa de desconhecido depois de conversar no chat, É ISSO MESMO? PELO AMOR DE DARWIN, NÃO APRENDEU NA ESCOLA? Diria que é estupro consensual. SE FUDEU, GORDO!

Agradeço por me confiar pelas revelações, desabafos e palavras ácidas, menos tua filosofia engenheiroca sobre mundo orgânico e plástico me irrita pacas e tua visão clínica sobre meu mundo silencioso foi totalmente inaceitável! Informe-se bastante com a variedade, aprecie bastante com o momento empírico onde exige o preço alto para apreciar e não se faça papel de vítima tempo todo, se liga!
Ainda mais nunca mais vou te perdoar por ter atrapalhar meus estudos universitários e reuniões da bolsa para atender tuas crises infantis sem noção. Veja só o lindo resultado que ganhei: cadeira reprovada, não vou formar este ano e terei que estudar mais um ano. Satisfeito? VÁ NA MERDA!


Dar um final no relacionamento insuportável foi a melhor das coisas que fiz, isso não foi fácil, viu!

Dessa vez espero que você encontre um parceiro que seja enfermeiro, médico ou psiquiatra. E desejo que teu caminho seja uma happy hour eterno que lhe custa uma fortuna para deixar tua mente lúcida, por enquanto. E tenha excelentes estupros consensuais pós-chat terra (que maldoso sou eu!). 
E as idas aos ônibus voltaram a ser monótonas, porém, bem melhores sem tua presença abobada. Tampouco não vou fazer nenhum escândalo quando te encontro em alguma parte do campus e no RU, prefiro ficar te ignorando...

Se cuida, torresmo porco assado pig!

Beijo, G.

P.S: Vá à quiropraxista para que ajeite tua coluna defeituosa, viu!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Um simples pergunta pode surpreender...

... daí ninguém espera isso também pode mudar seu destino."

Cinco minutos depois de ônibus ter partido, estava agradável o dia, o menino estava sentindo a brisa vindo da janela levemente desfocada até receber uma leve cutucada no seu braço e virou para atrás. Era um rapaz de barba com óculos falando sem jeito, deu para notar através da leitura labial que estava elogiando dos seus alargadores. O menino tentou falar, ma o rapaz não compreendia e continua sorrindo de forma tímida. Pediu para aguardar um pouco, tirou caderno da mochila e escreveu sobre alargadores. O rapaz leu e fez pergunta sobre curso que o menino faz, respondeu que faz Jornalismo e ele Engenharia Civil. Respondidos. Mas, o rapaz fez outra pergunta que o deixou surpreso de forma inesperada:

Você é bonito. Está namorando ou não?

Uma cantada no ônibus que levou uma longa conversa escrita, mais tarde resultou o namoro entre dois rapazes.





sexta-feira, 13 de julho de 2012

50 dias...

...contemplados de greve nas universidades federais.

Isso soa irreal no blog em que você está lendo, sim.

Na universidade onde estudo está em greve. Seis cadeiras paradas no começo de segundo bimestre, apenas uma cadeira está concluída. Férias antecipadas, com certeza. Mas continuo trabalhando como bolsista para me sustentar, às vezes o custo da vida saí bem caro do que viver em capital ultimamente, mesmo estando morando sob benefício garantido: residência, refeições e direitos garantidos para um estudante. Já que os servidores públicos resolveram dar uma força aos professores, também aderiram na greve. Resultou a paralisação da biblioteca e restaurante universitário, começam os dias de fome intenso que me forçaram a criar mais furos nos cintos, nada mal.

Já que o incômodo me atrapalha: inúmeras mensagens da mãe que ficou sabendo da greve, mesmo sabendo que não tenho alimentando suficiente e gastado dinheiro da bolsa por necessidades superficiais como cigarros que tenho consumido mais do que devia. E pediu que eu voltasse mais rápido possível, mesmo sabendo que estou enrolando para manter uma distância que separa a  "nossa" cordão umbilical.

- Está mais magro ultimamente. Ainda mais teus dentes estão cada vez mais amarelos, pelo amor de deus!
- Dá pra parar um pouco? Vou voltar lá para não escutar tuas reclamações, ponto final.

Sempre termina em volta para minha residência provisória depois das visitas na casa dos pais na minha cidade natal.

Ultimamente, meu estômago não aceita mais leite nem derivados. Intolerância à lactose, bonito resultado que a gastrite me deixou desde final de ano passado. Consumo de lacticínios caiu drasticamente, mesmo tendo compulsões nada convencionais como ataques nas pizzarias e padarias às escondidas que me obrigam a ir no banheiro livrar o que não foi aceito no meu corpo. Diarreia intensa, enjoo, suor excessivo, irritação e mudanças de humor que a intolerância me causa.
Já que consigo vomitar sem enfiar mãos na garganta, sem dificuldade nenhuma. 

- Com licença, vou demorar um pouco no banheiro. - falei, depois de atacar geladeira sob efeitos de maconha.
- De novo? Você não engordou nem uma grama depois das inúmeras laricas, tem vomitado ultimamente? - disse uma amiga próxima, chapada.

Um bulímico maconheiro, que toma clonazepam e fluoxetina em dobro todo dia. 

Autodestruição em modo ativado novamente... até ser interrompido por alguém, de família até amigo próximo. Isso não vai durar por muito tempo, quem sabe.



domingo, 1 de julho de 2012

"Todo recomeço...

...é dolorido e envolve muito sofrimento... Mas se realmente se faz necessario, não adianta lamentar... É preciso ir em frente!"

Acordou cedo, olhou nos lados e estava sozinho na cama. Sua cabeça doí, tinha exagerado a dose de vinho na noite anterior.

A bulimia retornou, ainda de forma intensiva. Mesmo não sabendo do peso atual, só prefere evitar balanças.

Ainda deitado na cama, tirou um cigarro do maço Marlboro Light e ficou tragando enquanto lembra da última relação sexual que tinha feito faz pouco tempo. Um abraço quente, forte e confortável. Cheiro de Áurum e hálito de cerveja nas costas. A posição lembra muito do último relacionamento que teve. Vergonha na cara, por sinal. Um pedido de discrição total. Uma despedida irreal e confusa.

E tinha voltado a tomar fluoxetina e clonazepam faz um mês. Mas não dão efeito imediato. Malditos genéricos!

Nunca se sabe o que acontecerá, só o sentimento da necessidade ainda está presente no seu corpo. Necessidade de recomeçar.



domingo, 20 de maio de 2012

Day 6 — A stranger

Prezado desconhecido,


Prezado? Essa palavra não cairia bem para te cumprimentar nesta carta. Seria um desleal lembrar escrevendo para você depois de ter passado.
Numa noite chuvosa e gelada, eu estava prestes a sair da balada. De repente, você apareceu do nada sorrindo para mim e começou a falar no meu ouvido. Tentei te avisar que sou surdo e percebi que você está bêbado. Me convidou para ir na tua casa, me fez pensar horrores. Mas decidi te levar para minha casa.


Eu não devia ter feito, porque eu estava carente. Me fodi na hora errada...


Um desconhecido sem nome nem idade na cama.
Hálito de álcool nas minhas costas
Dor intensa na parte de baixo
Tentativa fracassada
Nenhum carinho
Nem despedida no final.
Você me fez tomar um porre misturado de rivotril.
Você me fez apagar.
Você me fez magoar.
Tarde demais.
Eu me arrependi.
Pior é que ainda lembro daquela noite.




Vim para dizer umas coisas que você não vale pena e que mereça um lugar de algum inferno dos infernos insuportáveis.
Do que adianta praguejar tudo isso? Não sei teu nome nem idade e não me faço ideia de onde você é! Porque  não entendia nada do que você falou para mim assim bêbado.
Enfim, espero que você esteja morto ou sofrendo em algum lugar insuportável...


Adeus.
G.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Em versão de Christiane F.

No meio da bagunça que seus amigos deixaram: copos vazios e cheios de bebidas alcoólicas, cinzeiros entupidos, mesa carregada de drogas variadas e a televisão exibindo filme pornô.

Estava sozinho num ambiente inóspito e seus amigos haviam ido embora.

Mas...

Não está sozinho, está sendo observado por uma menina que veste de vestido xadrez vermelho que sempre o acompanha e disse, sorrindo:

-  Está tentando fugir dos problemas, mas os problemas sempre andam acompanhados contigo e serão fiéis. até a morte.

8 meses sem clonazepam e fluoxetina. 57 quilos.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Lembranças sem fim

O rapaz disse que tudo ia melhorar se for esquecer dos momentos com o cara de teatro com que tinha relacionado por um bom tempo...

Mas estava enganado.

Ele se encontra irritado no fim do quarto semestre, mesmo que tenha sido aprovado em quase todas as cadeiras, só que pegou apenas um exame. O que deixou o rapaz irritado? Foram as lembranças que não deixaram de desaparecer, resposta cruel.
Teve que mentir para outras pessoas que lhe fizeram uma pergunta:
- Mas você não sente falta dele?
Ele sempre responde a unissona resposta: não.
No fundo, ele está sentindo saudades mesmo. Mesmo depois de ter passado tudo isso como a descoberta inesperada de que ele estar namorando com outra pessoa enquanto relacionavam.

Além das lembranças que o rapaz guarda, tem fumado Marlboro Blue Ice (cigarro preferido do cara) todo dia, esbarra com o cara algumas vezes nos arredores da universidade e do restaurante universitário e sempre passa na frente do bloco 21 onde o cara mora enquanto o rapaz mora no 24. Basta apenas alguns passos para ele poder dizer tudo o que sentia ao cara do teatro! Mas é totalmente impossível, pois não quer se machucar novamente depois de tudo isso.

Sonhos, fumaça de baseados, compulsões e muitas ressacas resumem o cotidiano do rapaz perdido no meio das lembranças mal-sucedidas.


- Psiu! Você está no mundo da lua, guri?
- Hã? Oi!... Só estou filosofando, tudo bem? - apaga cigarro no chão.
- Estou bem... vamos dar uma volta? - sorri o cara.
- Devo aceitar?
Deu uma mão como um convite. E foram caminhando nos arreadores da universidade.